Esse texto foi escrito como presente de um amigo secreto, por tanto, ele é pra Flávia Amaral e só pra ela. (:
Além disso, tenho que agradecer a Rai porque vixe, não ia saber o que fazer sem a ajuda dela, obrigada por me dar tantas dicas, sogrinha <3
E a foto é minha também, tudo original aqui. o/ (tirando a Alice -q)
O relógio continuava com
aquele seu tique-taque irritante e incansável, sem nunca parar. Ora, mesmo
depois dela desejar tantas vezes que ele quebrasse e simplesmente emudecesse.
Era um grande atrevido aquele relógio, isso sim, queria era ser maior que todos
os outros sons, mas coitado, era tão baixinho que pra recompensar não parava
nunca.
Continuava sempre. Tique. Taque. Tique. Taque. Tique. Taque.
Tique.
E foi entre um desses
barulhinhos infernais que ela o viu. Ali, parado a sua frente apenas esperando
ser notado. Esperando que sua criadora
enfim voltasse sua atenção para ele, que esquecesse o maldito relógio e olhasse
logo para ele. E ela finalmente olhou.
– Ah, até que enfim eu
mereço um pouco de sua ilustre atenção, Flávia. – foram suas primeiras
palavras, ou pelo menos as primeiras que ela percebeu.
Em resposta houve apenas
um olhar confuso, como que pensando: Ora,
quem é essa tal de Flávia que ele se refere? E só, nenhuma palavra, ela
apenas desviou o olhar novamente para o relógio.
– Não me venha com mais
uma sessão de relógio, por favor. É com você mesmo que estou falando. – agora
seu tom transparecia alguns sinais de nervosismo.
– Como pode estar falando
comigo quando chama por um nome que não me pertence? – ela enfim falou.
– Ah, sim. Como pude me
esquecer? É Alice, não é?
– Exato. – sua pequena
afirmação estava carregada por um tom um tanto quanto alucinado. – E você é?
– Ora, ora. Minha cara, se
você fosse mesmo Alice saberia muito bem quem sou. Sou o Valete de Copas, mas
você pode me chamar de Jack.
– Jack. – ela pronunciou
aquela palavra como se fosse a mais poderosa entre todas que existiam no
dicionário, seus olhos castanhos por um momento vagando pelo quarto como que em
busca de uma lembrança perdida entre um Tique
e outro Taque.
O Valete apenas esperou,
deu o tempo que ela precisava para que lembrasse, ou ao menos o tempo que ele
considerava o necessário. Flávia continuava admirando o quarto com seu olhar
perdido, tentando enxergar algo além daquelas paredes brancas e sem graça.
Tique.
Ela piscou uma vez como se
de repente algo fizesse sentido dentro de sua mente.
– Jack. – agora sua voz
foi carregada de amor.
– Não querida,
infelizmente, não esse Jack. O Jack que você amou não existe mais, ele é o
motivo de você estar aqui. Tente se lembrar, esse é o motivo de eu estar aqui.
– Jack. – na terceira vez
a palavra saiu acompanhada de uma lágrima.
Ele aproximou-se dela,
sentou no canto da cama e passou os dedos delicadamente pelo rosto de Alice,
enxugando sua lágrima.
– Alice, não chore. Que
tal um pedaço de torta? Será que te fará mais feliz?
– Não, obrigada. – ela
sorriu pelo gesto de carinho.
– Você se lembra dele?
Preciso que se lembre, assim finalmente poderei libertar você e também todos do
meu reino, os quais estão presos aqui junto comigo.
O Valete continuava com
sua mão no rosto da garota, vendo que ela hesitava em responder, aproximou-se
de seu rosto lentamente.
Flávia sentiu sua
respiração calma e o olhar perdido voltou-se para aquele rosto, parou um
instante na cicatriz desenhada em torno de seus olhos cada vez mais próximos.
Tempo necessário para que sentisse seus lábios se encontrando.
Ela fechou os olhos e
aproveitou a firmeza daquele beijo repentino. Sua pele era fria, tanto os
lábios como a mão que segurava seu rosto.
– Acorde, querida Alice. –
ele falou ainda muito próximo dela, fazendo com que ela respirasse seu hálito
doce.
E então ela se lembrou
realmente de seu Jack, aquele que havia amado e que não estava mais com ela.
Lembrou-se de ter sido levada para aquele quarto branco, para perder-se
completamente.
Abriu os olhos, finalmente
desperta, mas ele já não estava lá. O Valete havia se despedido com aquele
toque de lábios, e havia também trazido-a de volta.
– É Flávia, não Alice. –
ela respondeu para a lembrança dele que ainda vivia entre as paredes brancas,
acreditando que suas palavras pudessem encontrá-lo como um gesto de despedida e
de agradecimento.