Conto postado anteriormente na Amora Literária. Passa lá (:
Tem
horas que ler não adianta, é preciso mergulhar nas próprias sensações e colocar
os pensamentos para fora.
É
preciso livrar-se deles para sempre, jogá-los ao mundo e distribuí-los com os outros.
Deixar uma parte dele em cada um, para que reste apenas um pedacinho em si
mesmo.
Para
isso, ler não adianta. Tem horas que é preciso escrever.
Ler
pode ajudar. Fazer a mente vagar por outros mundos e até conhecer outras
paixões – pegá-las emprestadas e fingir que são suas até o livro se fechar.
Entretanto,
depois de distanciar-se das páginas, você continua com suas próprias paixões. Por isso, às vezes é
preciso mais que livros.
Escrever,
por outro lado, é colocar você mesmo em palavras. É misturar-se em cada fala,
cada cena, cada personagem. Ser todos e ao mesmo tempo nenhum, para não
revelar-se por inteiro – afinal, não teria graça se todos conseguissem te ver
sem reconhecerem a si mesmos.
Escrever
é destrinchar seus sentimentos, dividindo-os entre a mente de suas criações e
completando-os com ilusões.
O
resultado é você. Contudo, são vários tipos diferentes de você, e nenhum deles
é completo. Assim, nenhum deles é realmente
você, mas tudo aquilo junto... Ah, aquilo faz parte de quem você é.
Por
isso, às vezes ler não é suficiente, tem horas que é preciso escrever. E aquele
momento era um deles, então ela escrevia:
“Tem
horas que ler não adianta...”
E
o resto da história é você.
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