Bom, primeiro, esse texto foi escrito para o Desafio de Final de Ano que a Mel fez o favor de montar pra gente. Então, quero agradecer a ela porque realmente foi um desafio escrever. Um conto com cena de sexo entre duas mulheres (sendo uma prostituta) não é meu estilo, mas foi uma delícia escrever. Aliás, sempre é um delícia escrever coisas diferentes.
Segundo, obrigada mana e dora, vocês ajudaram pra caramba! E terceiro, se você chegou até aqui já sabe que é um conto femme (lésbico) e com NC (cena de sexo), então não leia se não se sentir a vontade para tal.
Espero que gostem. (:
Andava
de um lado para o outro na calçada, esperando seu cliente chegar e revezando o
peso do corpo entre uma perna e outra, para aliviar a dor que o salto agulha
causava. Vestia um espartilho preto que parecia de couro e uma saia do mesmo
tom, porém de tecido mais leve. Por baixo da saia, uma meia calça arrastão,
completando o visual totalmente clichê, mas ainda usado em sua profissão.
A
cor da roupa combinava com a maquiagem carregada dos olhos, porém contrastava
com o batom vermelho e a pele claríssima. Ria ao pensar como a descrição
poderia parecer a de um conto de fadas. Lábios cor de sangue, pele branca como
a neve. Uma descrição de contos de fada para uma vida completamente distante
deles.
Chamavam-na de Ninien, num sotaque inglês,
fazendo-a sentir-se poderosa. Fora um cliente estrangeiro que inventara o
apelido, explicando que era uma variação de um nome lendário, de uma poderosa
bruxa das lendas de seu país de origem. Lembrava que o original era Vivianne,
mas era comum demais, então acabou adotando o adaptado Ninien, achando que pelo
menos no apelido poderia fingir ser incomum e elegante.
Mal
sabia ela o quão realmente era incomum e elegante. A vida tentara desprezá-la,
mas ainda assim era muito mais valorizada que a maioria de suas colegas de
profissão. Seu chefe, Marcus, não a deixou nem uma semana na rua entregue aos
clientes comuns, percebera seu potencial e a separara logo para os mais
exigentes – e talvez mais depravados.
Seu
corpo era maravilhoso. Seios fartos, coxas grossas e firmes. Gordura na medida
certa, escondendo os ossos da costela e deixando um pouquinho salientes os do
largo quadril. Era sempre parabenizada pela beleza, mas no fundo a odiava,
sabendo que Marcus nunca a deixaria escapar de suas mãos. Era uma peça rara
demais para ser perdida.
Uma
peça. Como um vaso enfeitando a mesa de centro. Era apenas isso; um objeto aos
clientes e um troféu ao chefe. Para si mesma, não era nada. Era proibida de
existir como humana, incentivada a comportar-se como ferramenta, cumprindo seus
objetivos. Entregando o prazer que pagavam para ter.
Todos
a possuíam. Todos menos ela mesma.
Parou
e deixou o corpo apoiar na parede ao lado da porta. Era proibida também de
afastar-se da casa. Marcus dizia que para sua segurança, que as colegas de
trabalho não gostariam de vê-la pelas calçadas, que roubaria seus clientes
quando já tinha os próprios.
Na
verdade, era instruída a esperar dentro da casa, mas não aguentava mais o ar
pesado e grudento dela. Precisava encontrar o vento frio para
acalmar-se. Precisava esfriar o corpo, congelar os pensamentos para aguentar
mais uma noite.
Não
sabia quem atenderia. Não costumava saber, a não ser quando eram
os clientes fixos, com datas marcadas durante o ano todo. Sabia apenas que já
estava atrasado.
Gostava
mais dele por isso. Seu tempo seria o mesmo, não importava a hora que começassem.
Era paga pela hora marcada, o atraso não era responsabilidade dela para ser
descontado.
Ninien
começou a tamborilar com os dedos na parede, impaciente. Apesar de não estar
ansiosa pelo trabalho, odiava esperar. Dobrou um dos joelhos, apoiando o salto
também na parede. Ouviu um carro se aproximando em velocidade e diminuindo aos
passar por ela, não o suficiente para estacionar, mas apenas para admirá-la e
buzinar já virando à esquina.
Suspirou
irritada. Desprezava a espécie humana. Principalmente os homens, eram todos
ridículos. Desde o estrangeiro que lhe apelidou até os piores clientes que
conviveu enquanto atendia nas ruas.
Desprezava
também a si mesma, uma prostituta de luxo, porém tão baixa quanto às rameiras
das ruas.
Ouviu
mais um carro se aproximando, dessa vez devagar. Virou na esquina quase parando
e pisou no freio quando chegou até ela. Era um Audi conversível, num tom
perolado. Devia ter pago uma fortuna para tê-la, ainda mais durante toda a
madrugada.
Endireitou o corpo e caminhou até o carro,
mantendo a postura e cruzando as pernas na frente do corpo, acentuando o
movimento do quadril. Tocou na porta e quase estancou ao ver o motorista.
Ou
melhor. A motorista.
Pelo
que conseguiu assimilar na noite, tinha o cabelo num tom loiro escuro, a pele
clara, porém nem tanto quanto a própria. Corpo magricela, perceptível
principalmente nos braços finos, que não eram cobertos pelo vestido de mangas
curtas, num tom cor de rosa avermelhado.
Abriu
a porta e sentou no banco, agradecendo por finalmente descansar os pés. A
cliente nem chegou a virar o rosto, o cabelo estava preso de lado num
emaranhado que o fazia cair ao lado da face, escondendo parte de suas feições.
—
Coloque o cinto. – pediu com a voz trêmula, revelando certo nervosismo.
Ninien
obedeceu ainda analisando a garota, estava acostumada a cumprir ordens, e
apesar de na grande maioria dos casos os clientes serem homens, no final não
importava o gênero. Assim que prendeu o cinto, a outra pisou no acelerador,
deixando o ponto de encontro para trás.
Apesar
de bagunçar o cabelo, gostou do vento batendo no rosto. Ajudava na tarefa de
congelar a mente para exercer sua função. A primeira e última vez que esteve
com uma mulher fora um fiasco, a cliente utilizou brinquedos um tanto sádicos.
Nada que provocasse dores muito intensas, já experimentara vários outros depois
daquilo, mas na época ainda estava começando como artigo de luxo. Nas ruas
aqueles aparelhos não eram permitidos. A rua tinha regras, dependendo do preço.
Ela
não. Pagavam bem demais para terem proibições.
A
única regra era entregarem-na de volta com a mesma aparência que partira, no
máximo alguns arranhões leves. Pronta para o dia seguinte. Mesmo que o dia
seguinte fosse acompanhado de algumas dores. Marcus não se importava com seu
bem estar, bastava que estivesse viva e bela.
O
carro diminuiu, acordando Ninien de suas memórias. A insegurança precisava ser
vencida o quanto antes. Se aprendera alguma coisa no tempo entre a última
mulher e aquela, era que a insegurança apenas causava mais sofrimento. Os
clientes ficavam intimidados quando aparentava ser poderosa, alguns até mesmo
inseguros, atrapalhando a ereção nas noites de sorte.
Entraram
numa portaria escura. Provavelmente mais um motel sofisticado, em que a
privacidade e o sigilo eram essenciais. Os clientes mais ricos sempre a levavam
para estabelecimentos daquele tipo.
A
motorista apresentou algum cartão qualquer, o portão eletrônico se abriu
deixando o carro atravessar para em seguida adentrar numa garagem privativa. A
loira destravou o cinto antes de finalmente voltar o rosto para a prostituta,
que distraída, continuara encarando-a durante toda a viagem.
Ela
tinha os olhos negros e profundos, o rosto limpo, aparentemente sem maquiagem.
Os lábios levemente ressecados, despertando um desejo que Ninien acreditava ser
apenas devido à prática, de tocá-los e umidificá-los com a própria língua.
A
meretriz percebeu seus atos e virou o rosto, estranhamente envergonhada. O
coração acelerou quando notou a falta do vento para congelar seus pensamentos.
Apertou os dedos, tentando esconder a insegurança.
—
Marcus te apresentou como Ninien. Como não aprecio desigualdades, é melhor que
saiba como me chamar também. – falou com a voz ainda mais nervosa que antes. –
Delilah.
—
É um prazer conhecê-la. – brincou com
as palavras, deixando que o nervosismo da outra afastasse parte de sua
insegurança.
—
O prazer é todo meu. – respondeu tentando retribuir a brincadeira.
Delilah
desceu do carro e deu a volta, abrindo a porta do carona, melhor que muitos
cavalheiros. Não parecia ansiosa como a maioria dos que procuravam por
profissionais do sexo. Ao contrário, parecia insegura com a decisão e inocente
demais para pagar por prazer ou realização de desejos.
Esticou
a mão à Ninien, que aceitou e saiu do carro. Agora que estavam sob a luz
artificial, a loira deixou os olhos explorarem o corpo da outra sem mistério.
Demorou-se nas pernas, mordendo um pouco os lábios enquanto o fazia, e passando
mais rápido pela parte superior. Ignorou o rosto, já analisado no carro.
Ainda
de mãos dadas, guiou a prostituta até o quarto, passando por uma escada
estreita e adentrando pela porta entreaberta. O ambiente era claro e luxuoso.
Uma cama de casal grande a alta, espelho cobrindo uma das paredes, com uma
barra de pole dance no meio. Sem
qualquer divisão, na parede em frente à cama estava uma banheira redonda, com
espaço para no máximo três pessoas.
A
imagem das duas refletida no espelho, de mãos dadas, formava uma dupla
interessante. Ninien vestida de forma a mostrar grande parte do corpo, com o
salto alto tornando sua postura elegante. Delilah com uma sandália branca sem
salto, deixando-a ainda assim apenas um ou dois centímetros mais baixa, o
vestido apenas um pouco acima dos joelhos, revelando apenas parte das pernas
quase tão bonitas como a da companheira.
—
Certo. – a de rosa começou, limpando a garganta. – Acho que você deve estar
mais acostumada com isso do que eu.
—
Não teria tanta certeza. – respondeu sincera.
—
Bem, eu nunca paguei por isso. – admitiu.
—
Nem eu. – riu.
Delilah
riu também, acompanhando a outra. Não tinha certeza do que a levara até lá.
Queria suprir o desejo de estar com outra mulher, mas sem revelar a vontade a
qualquer uma de suas amigas. Estava quase desistindo dos homens, todos que
conhecera foram desprezíveis demais, incluindo o último e quase atual namorado.
—
Certo. – recomeçou. – Que tal se, apenas essa noite, você pudesse fingir que
não é o que é?
—
É o que vários costumam pedir.
—
Não, mas não é o que quero dizer. Não para esquecer, mais como se pudesse
trocar.
—
Como assim?
—
Você gostaria de fingir que é você quem está pagando por isso? Quero que esteja
no controle, sabe melhor o que fazer do que eu. – admitiu mais uma vez.
Ninien
ponderou surpresa, aquilo era novo. Já tinha lidado com vários fetiches e
muitos clientes costumavam pedir que fosse natural, que fingisse estar com ele
por vontade, não obrigação. Ela não esquecia quem era, mas aprendera a fingir
bem.
Mas
Delilah não estava pedindo fingimento. Estava dando-lhe a liberdade de
escolher. De mandar e quem sabe simplesmente não fazer nada. Poderia aproveitar
o motel e dormir tranquila, sem obrigações.
Contudo,
a falta de dever desabrochou nela o próprio desejo. Pela primeira vez poderia
ser ela mesma. Poderia possuir a outra como costumava ser possuída. Poderia ser
a dona de alguém.
Adorou
a ideia.
Mudou
a expressão, soltou a mão da garota e rodeou-a, analisando de todos os lados,
como costumava ser analisada. Parou de frente para ela, de costas para o
espelho. Os lábios ressecados pareceram muito mais atraentes agora que estava
no comando, deixando claro que o desejo anterior era mais que experiência. Era
real.
Aproximou-se
de Delilah, que afastou até ficar contra a parede. A respiração dela era
ofegante, fazendo a outra finalmente entender que realmente tinha mais
experiência. Estava claro que ela nunca esteve com outra mulher.
Sorriu
com a ideia de ser a primeira para a loira. Mal a conhecia, mas não gostaria de
compartilha-la com nenhuma outra. A ideia que era toda sua, como ela mesma
nunca fora de ninguém, era incrivelmente estimulante.
Levantou
os braços, dobrando-os e deixando que parte deles encostassem na parede, um de
cada lado da menina. Sentiu a respiração nervosa em seu rosto quando ela
expirava e o corpo perceptivelmente trêmulo. Delilah fechou os olhos e
assustou-se ao, logo em seguida, receber um tapa no lado direito do rosto.
—
Não deixei que fechasse os olhos, vadia. – falou ameaçadora.
A
garota soltou um gritinho de dor e reabriu os olhos, a reação fora uma
surpresa, mas por incrível que parecesse, não a amedrontou. O rosto ganhou um
tom vermelho e a pele uma ardência suportável. A distância diminuiu ainda mais
e Ninien finalmente tocou-lhe os lábios, primeiro com doçura, sentindo um gosto
de cereja que provava a presença de um resquício de gloss
transparente, que deveria ter secado em sua boca.
Em
seguida, puxou-a pela cintura, apertando o corpo contra o seu, sentindo os
ossos frágeis da coluna em seus dedos. O beijo tornando-se desesperado,
possessivo.
Afastou-se
dos lábios e desceu pelo pescoço, mordendo-a na nuca, produzindo um gemido
baixinho. Deixou que a outra mão descesse até a barra do vestido cor de rosa,
enfiando-se sob ele e chegando até a pele da garota, arranhando e apertando-lhe
a coxa.
Subiu
novamente o rosto, buscando os lábios e mordendo-os antes de encontrar
novamente a língua, fazendo-a soltar um gemido mais alto que o anterior.
Apreciando
a sensação, Ninien levou a mão da cintura até a nuca, enfiando os dedos entre
os fios loiros, puxando-os para baixo, deixando o pescoço esticado e o rosto
virado para cima, com os lábios livres.
A
mão que antes apertava a coxa continuou até alcançar a lingerie, puxando-a para
baixo para em seguida tocar-lhe a parte antes coberta. Sentindo a área
estimulada, continuou explorando-a com o dedo.
O
toque provocou em Delilah um arrepio pelo corpo, ela apertou as coxas,
envergonhada. Soltou um grunhido nervoso ao contrair-se e sentir a outra ainda
dentro de si, querendo afastar-se da mulher, porém ainda presa contra a parede.
Não esperava que as atitudes dela fossem tão intensas ou que avançasse tão
rápido. Não sabia como era a vida de uma prostituta. Vivia num mundo perfeito,
afinal.
Mesmo
Ninien não imaginava que o desejo seria tamanho. Não sabia o quanto o corpo de
uma mulher poderia lhe dar prazer. Nem ao menos o que era prazer, fingia-o
todas as noites, mas percebia agora que nunca tinha chegado a senti-lo de
verdade.
Era
incontrolável.
Precisava
aguentar o prazer de tantos homens tantas vezes que não queria se controlar
agora. Queria tê-la por completo, então não podia permitir que se envergonhasse
ou lutasse contra aquilo. Delilah precisava se entregar, talvez até mais do que
a prostituta costumava fazer.
Não
queria obrigá-la, mas isso nunca fora motivo para que a respeitassem. Precisava
demais da sua própria noite para respeitar a velocidade da outra sem receber
nada em troca.
—
Muito bem. – pontuou séria, soltando o pescoço da outra e permitindo que seus
olhares se cruzassem. – Você pediu por isso, qual o problema agora?
A
pergunta assustou. O tom era sério demais e Delilah finalmente entendeu onde
estava se metendo. Ela lhe dera a liberdade, precisava seguir as próprias
regras. Sentiu a mão da mulher se movimentando, massageando seu sexo e voltando
à coxa. Suspirou aliviada.
—
Você tem duas opções. Pode ter o que eu costumo ganhar ou um pouco mais, ambos
com consequências. – sorriu, se divertindo com o controle da situação.
Sem
esperar a resposta, Ninien explorou suas costas e peito com as mãos, devagar.
Sentindo as curvas da cliente e ao mesmo tempo procurando o zíper que abria o
vestido.
—
Quais as consequências? – Delilah perguntou com a voz ainda mais trêmula que no
começo.
A
prostituta achou o zíper, ao lado esquerdo do tórax. Abriu-o devagar,
observando a roupa alargando-se no corpo da outra. Engoliu em seco e voltou a
encarar o rosto da menina. Baixou as mãos até a barra do vestido, deu um passo
para trás e puxou-o para cima, revelando aos poucos o corpo seminu.
—
Opção número um, você me dá o que eu quero e eu tento não retribuir a ponto de
te envergonhar. – sorriu não tão gentil. – Opção número dois, você me dá mais
do que eu quero – deixou o olhar vagar até o pole dance – e eu retribuo dando-lhe prazer no seu tempo.
—
Opção número três, começamos com a opção número um e depois vamos para a dois.
—
Talvez, se fizer tudo certo na número um, posso pensar em dar-lhe a três. –
deixou o sorriso, dessa vez, demonstrar sua satisfação.
Não
esperava, mas estava realmente apreciando a companhia da cliente. Mais do que o
controle, estava gostando também da personalidade dela. Estava gostando de
estar com uma mulher. Estava gostando de estar em específico com aquela mulher.
Baixou
os olhos, escaneando suas curvas. Puxou-a pelo braço empurrando-a em direção à
cama. Delilah nem tentou esconder a vergonha. O rosto corou, mas gostou de
sentir seu toque direto na pele. Estava extremamente nervosa com a situação,
mas já tivera mais prazer que com seu no momento ex-namorado.
Eles
viviam indo e voltando, então já nem se incomodava em colocar o ex na frente,
mas nunca sabia exatamente em que ponto estavam. Provavelmente, depois daquela
noite, não teriam mais volta. Nem que ele quisesse, talvez estivesse na hora de
entregar-se ao que realmente era e sentia.
Ninien
retirou os saltos e deitou na cama, dobrando os joelhos e entreabrindo as
pernas. Chamou a garota para si, puxando-a pelo braço, deixando o corpo
pressionar o seu e beijando-a mais uma vez, com mais entrega que antes.
Mordeu-lhe
os lábios com força, querendo ouvir seus gemidos. Delilah entregou-lhes e afastou-se,
erguendo o corpo com uma expressão confusa.
—
Opção número um, o objetivo é o meu prazer, não o seu. – explicou.
Passou
as mãos pelo corpo da garota, ora arranhando, ora apertando cada parte dela,
adorando a vermelhidão aumentando no rosto a cada apertão, demonstrando sua
timidez. Chegou às costas e desabotoou o feixe do sutiã, deixando Delilah
vestindo apenas uma peça da lingerie. Apalpou seus seios, beliscando os
mamilos, provocando alguns gemidos ainda mais altos.
Continuou
com as mãos até os ombros e empurrou-a para baixo, deixando a cabeça na altura
de seu próprio sexo. Delilah entendeu o recado. Não o faria por obrigação, mas
sim por vontade própria. Seguiria ordens, mas apenas as que também desejava
cumprir.
Tomou
a frente da situação. A prostituta ergueu o quadril e ela subiu a saia e arrancou-lhe
a meia calça arrastão, sem se preocupar em mantê-la intacta. Era a única peça
cobrindo seu sexo.
Apesar
de ainda insegura, Delilah deixou que as mãos da outra guiassem seu rosto, o
instinto lhe dizia o que fazer. Tocou seus lábios inferiores com o mesmo prazer
que beijara seu rosto. Ninien deixou-a assumir o controle e auxiliou com os
dedos, acariciando seu clitóris. Sentiu a língua da companheira explorando-a,
penetrando-a. Sentiu também as mãos em suas coxas, mantendo-as abertas e
apertando seus músculos com vontade.
Deixou
os próprios gemidos escaparem, entregando-se pela primeira vez ao prazer
verdadeiro. Sentindo seus desejos realizados, quase como se fossem seus sonhos.
Afinal, sonhara em deixar de ser uma prostituta e, naquela noite, conseguira.
Diferente do proposto, era mais que uma cliente, era uma mulher comum.
Estava
ganhando para estar ali, mas descobrira algo que dinheiro nenhum poderia
comprar. Descobrira o real significado do prazer. Descobrira quem e o que era.
E, quem sabe, descobrira também o amor. Não entendia nada sobre o sentimento,
mas para uma meretriz o amor não poderia ser muito mais que aquilo. Para ela, o
amor não poderia ser muito mais que uma noite no controle, sendo nada mais que
ela mesma. Sem máscaras.
Chegou
ao ápice do prazer, deixando o corpo tremer e contrair-se. Puxou o rosto da
garota de volta para cima, buscando seus lábios brilhantes e não mais
ressecados. O gosto de sua boca era todo seu, em todos os sentidos.
Delilah
retribuiu o beijo com ainda mais vontade que antes, a timidez dissipada. Compartilhavam um momento de descoberta mútua. Podia estar pagando
pela companhia, mas tinha certeza que não era o dinheiro que causara tudo
aquilo.
Ambas
compartilhavam aquele momento com a mesma intensidade. Rica e pobre, garota e
mulher, cliente e prostituta. Não se preocupavam com o sentimento, deixavam
nascer uma paixão que não podia ser errada. Não era ruim, mas incrivelmente boa.
Era
cheia de defeitos, mas ao mesmo tempo perfeita. Era a realização de desejos e
sonhos. Era a descoberta e salvação de essências. Era um tempo, não perdido,
mas compartilhado.
Afastaram
os lábios, exaustas. Delilah deixou o corpo rolar para o lado, finalmente
deitando na cama. Suspirou satisfeita, ainda que o objetivo não tenha sido o
prazer dela.
Ninien,
por sua vez, fechou os olhos, feliz. Relaxou as pernas e acompanhou a cliente
no suspiro, porém o dela era apaixonado. Apaixonado pela garota que tinha lhe
apresentado o prazer.
Os
pensamentos, porém, começaram a voltar à mente e ela levantou-se nervosa.
—
Já volto para realizarmos a opção número três. – explicou sorrindo, ao ver o
olhar curioso de Delilah.
Precisava
do ar para voltar a congelar os pensamentos. Aquela noite era a realização de
um sonho. Naquela noite, os suspiros poderiam ser de amor. Mas como poderia
voltar para a realidade e fingir um falso prazer depois de conhecê-lo de
verdade?
Precisava
congelar os pensamentos e, quem sabe, mantê-los presos ali, naquele quarto,
para sempre.
Precisava
congelar os pensamentos e mantê-los onde tudo era real.