Este texto foi escrito em Junho de 2011, para o desafio Decádas Passadas
Década: 60
Agradecimentos: Dora
e Biel, por me ajudarem a encontrar uma linha, acho que ia chorar sem vocês, e
não é exagero. E a Lisa e eles dois de novo, pela opinião. Obrigada.
N/A: Quero antes de começar, deixar bem claro que esse texto não
tem base totalmente correta, eu procurei pesquisar o máximo antes de começar a
escrever, mas não encontrei referências aos horários e sentimentos descritos
aqui.
Antes: Uma pequena
introdução histórica
Em meados da década de 50 assume
como presidente do Brasil o famoso Juscelino Kubitschek, ele se mantém no poder
até o início da próxima década, quando deixa o país nas mãos de Jânio Quadros, que fica pouquíssimo tempo no cargo, renunciando e dando lugar a João
Goulart, seu vice.
Peço perdão por correr com as informações e não explicar
os detalhes, mas só conto-as para que os fatos narrados a seguir não fiquem
totalmente perdidos na mente de você, leitor. Espero que essas pequenas
informações, caso haja alguma dúvida, ajudem a situá-lo melhor no tempo.
31 de março de 1964
Um dia que entrou para a
história. Conhecido pelo dia em que ocorreu o Golpe Militar, o início da
Ditadura.
Era noite e estavam todos em
casa, eu também estava lá, apenas esperando o momento chegar para entrar em
ação. Meu nome? Morte. Minha cor? Cinza, pelo menos naquela ocasião, logo
voltaria ao mais conhecido e confortável preto. Permita-me, antes de começar,
relatar um fato sobre mim, eu não
gosto de revoluções e guerras, meu trabalho se torna muito penoso nessas
épocas, portanto, essa data – a qual deu início a uma revolta – não é uma das
minhas preferidas.
Eu estava lá aguardando – não tão
ansiosamente – pelo instante exato, enquanto meu olhar acompanhava o humano que
seria minha vítima, seu nome era
João, mas a maioria das pessoas o conhecia como João Goulart, o presidente.
Olhei para o relógio na parede, os segundos passavam tiquetaqueando
insistentemente no aparelho antigo, a hora estava quase chegando.
Senti a presença no exterior da
casa, ouvi os passos silenciosos. Meus olhos correram novamente ao humano, ele bebericava seu copo de uísque sem
perceber o movimento. Apurei ainda mais os ouvidos, não que isso fosse
necessário para mim, mas apenas por hábito e concentração. Os ruídos estavam
mais próximos, logo atrás das paredes.
Disparos. Um, dois, três. Não me
incomodei em continuar contando.
Agora o humano olhava em direção
a porta. Em seu rosto? O susto, por enquanto. Os passos agora estavam logo
atrás do batente de madeira, aprumei meu corpo, a hora estava quase chegando.
Batidas. A porta se escancarou
dando passagem para alguns militares. Mais uma vez, não contei. Em seu rosto
agora? Mais que o susto.
Acho que os humanos são um pouco
– digamos – burros, algumas vezes. Era de se esperar que aquilo acontecesse, os
boatos estavam se espalhando já há algum tempo. Mas eu nunca consegui entender
como a mente desses seres funciona.
Vozes. Passos. Silêncio. O cômodo
agora estava cheio, o relógio continuava tiquetaqueando na parede. Um baque. Um
copo no chão. Uma mão tremendo.
Aproximei-me. Em seu rosto? O
medo. Um movimento. Um tiro. O fim.
Estiquei minha mão para João,
segurei a dele. Puxei. Ele, ou melhor, sua alma, me encarou. Agora ele era meu.
Agora ele estava comigo, para sempre.
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