domingo, 8 de julho de 2012

31 de Março



Este texto foi escrito em Junho de 2011, para o desafio Decádas Passadas

Década: 60

Agradecimentos: Dora e Biel, por me ajudarem a encontrar uma linha, acho que ia chorar sem vocês, e não é exagero. E a Lisa e eles dois de novo, pela opinião. Obrigada.

N/A: Quero antes de começar, deixar bem claro que esse texto não tem base totalmente correta, eu procurei pesquisar o máximo antes de começar a escrever, mas não encontrei referências aos horários e sentimentos descritos aqui.



Antes: Uma pequena introdução histórica

Em meados da década de 50 assume como presidente do Brasil o famoso Juscelino Kubitschek, ele se mantém no poder até o início da próxima década, quando deixa o país nas mãos de Jânio Quadros, que fica pouquíssimo tempo no cargo, renunciando e dando lugar a João Goulart, seu vice.

Peço perdão por correr com as informações e não explicar os detalhes, mas só conto-as para que os fatos narrados a seguir não fiquem totalmente perdidos na mente de você, leitor. Espero que essas pequenas informações, caso haja alguma dúvida, ajudem a situá-lo melhor no tempo.


31 de março de 1964

Um dia que entrou para a história. Conhecido pelo dia em que ocorreu o Golpe Militar, o início da Ditadura.


Era noite e estavam todos em casa, eu também estava lá, apenas esperando o momento chegar para entrar em ação. Meu nome? Morte. Minha cor? Cinza, pelo menos naquela ocasião, logo voltaria ao mais conhecido e confortável preto. Permita-me, antes de começar, relatar um fato sobre mim, eu não gosto de revoluções e guerras, meu trabalho se torna muito penoso nessas épocas, portanto, essa data – a qual deu início a uma revolta – não é uma das minhas preferidas.

Eu estava lá aguardando – não tão ansiosamente – pelo instante exato, enquanto meu olhar acompanhava o humano que seria minha vítima, seu nome era João, mas a maioria das pessoas o conhecia como João Goulart, o presidente. Olhei para o relógio na parede, os segundos passavam tiquetaqueando insistentemente no aparelho antigo, a hora estava quase chegando.

Senti a presença no exterior da casa, ouvi os passos silenciosos. Meus olhos correram novamente ao humano, ele bebericava seu copo de uísque sem perceber o movimento. Apurei ainda mais os ouvidos, não que isso fosse necessário para mim, mas apenas por hábito e concentração. Os ruídos estavam mais próximos, logo atrás das paredes.

Disparos. Um, dois, três. Não me incomodei em continuar contando.

Agora o humano olhava em direção a porta. Em seu rosto? O susto, por enquanto. Os passos agora estavam logo atrás do batente de madeira, aprumei meu corpo, a hora estava quase chegando.

Batidas. A porta se escancarou dando passagem para alguns militares. Mais uma vez, não contei. Em seu rosto agora? Mais que o susto.

Acho que os humanos são um pouco – digamos – burros, algumas vezes. Era de se esperar que aquilo acontecesse, os boatos estavam se espalhando já há algum tempo. Mas eu nunca consegui entender como a mente desses seres funciona.

Vozes. Passos. Silêncio. O cômodo agora estava cheio, o relógio continuava tiquetaqueando na parede. Um baque. Um copo no chão. Uma mão tremendo.

Aproximei-me. Em seu rosto? O medo. Um movimento. Um tiro. O fim.

Estiquei minha mão para João, segurei a dele. Puxei. Ele, ou melhor, sua alma, me encarou. Agora ele era meu. Agora ele estava comigo, para sempre.

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