Esse texto foi escrito em Setembro de 2011.
Dedicatória: Ao Lipe, pelo seu aniversário. Parabéns, Lipongo.
Ela encarava o papel com um olhar
totalmente concentrado e os movimentos de sua mão iam fazendo a caneta correr
pela folha, dançando de forma rápida e inconstante.
Riscava, corria,
parava. Voltava, riscava, riscava, riscava.
Continuava, voltava e
riscava.
Seus olhos – preenchidos por
aquele azul intraduzível – não conseguiam sentir-se satisfeitos com o que viam,
e por isso a mão daquela garota insistia em voltar e riscar tudo que a caneta
havia deixado. Mas ela não desistiria... Ah, não, ela sabia muito bem a
importância que aquilo tinha que carregar, os sentimentos que tinha que passar
– ou pelo menos achava que sabia, porque na verdade sua mente era só dúvida e
incerteza.
Seus olhos – preenchidos por
aquele azul hipnotizante – estacavam, paralisados pelos pensamentos que
insistiam em rondar sua imaginação. Ela não iria demorar muito para perceber
que o problema em escrever aquele presente eram as dúvidas que ela teimava em
não admitir.
Será que o amo?
...
Amo! É claro que amo.
Mas como?
A caneta caiu de sua mão e ela
nem mesmo percebeu, seu olhar continuava fixo na folha. O corpo da garota se
estendia na cama de lençol azul, combinando com seus olhos. E os pensamentos
dela finalmente chegavam naquela questão.
Ela mergulhava em lembranças e a
única coisa que era possível observar era seu sorriso pacato no rosto suave.
Suas memórias voavam, como que levadas pelo vento – aquele vento que um dia,
num presente, disseram que era seu pai.
Sim, sei que o amo.
Amo de várias e
várias maneiras.
Como ele mesmo me
disse uma vez:
“Talvez nos déssemos
melhor como irmãos”
É, como um irmão...
Quem sabe...
E subitamente ela – a garota
filha do vento e com os olhos intensamente azuis – pegou a caneta. Sua mão
arrancou a folha rabiscada e deixou-a de lado, abandonada, para em seguida
começar a formar a dança que teria coragem de enviar ao seu amigo.
Eu poderia – e queria – escrever muitas coisas para você, mas não
adianta, nada nunca chegaria aos pés daquilo que você realmente merece, porque
eu não tenho capacidade para fazer algo que seja bom o suficiente para te
agradecer, para te mostrar o quanto você é importante na minha vida.
Uma vez uma querida amiga nossa me perguntou o que era o amor, e eu fiz
um texto para responder aquela questão. Dividi o amor em vários tipos, e
desenvolvi apenas quatro, os que considerava mais importantes. Mas não sei, o
amor que sinto por você é indeciso e vive pulando entre as opções – na verdade,
às vezes muda até o próprio nome.
Mas sabe o que acabo de descobrir? Não importa. É, não preciso
classificá-lo, não preciso entendê-lo, muito menos estudá-lo... você mesmo uma
vez escreveu que basta vivê-lo. E é isso que vou fazer. Não me importo com o
que ele seja, vou apenas vivê-lo.
E por isso eu te digo isso – na verdade não digo, apenas escrevo – hoje,
e sempre que precisar ouvir.
Eu te amo.
E a caneta novamente caiu de seus
dedos. Sua mão pegou delicadamente a outra folha antes abandonada, seus olhos
passaram por ela com dificuldade, seus dedos dobraram o papel e ele foi deixado
numa caixinha de pequenos tesouros – onde ninguém, além da própria autora,
poderia ler. E a outra folha logo estaria nas mãos de seu destinatário.
Fim.
PS: Só mais um detalhe, só eu
realmente posso entender o que se passa pela mente dessa garotinha que sempre
me foi tão querida. Porque eu sou o amor. Mas não tenho nenhuma intenção de explicar
como entro em ação – pelo menos por enquanto.
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