domingo, 8 de julho de 2012

Coeur de la Glace



Este texto foi escrito em Fevereiro de 2011, para o desafio 4 Elementos, no qual foi classificado em 2° lugar.

Tema (elemento): Água

 


E lá estava eu, em frente ao espelho, em frente ao nada, em frente ao tudo, porque sim, eu era o tudo e o nada ao mesmo tempo, era o completo e o vazio, era a água, clara e limpa, mas agora era o gelo, duro e frio.

Ainda podia ouvir as teclas do piano dentro de minha mente, como se estivessem aprisionadas para sempre em mim, como uma alucinação.

Antes, ainda como água líquida, eu podia dizer que conhecia a felicidade, a vida era transparente e eu conhecia tudo que havia dentro de mim, todos os meus sentimentos e todas as minhas fraquezas.

E a música que tocava antes, era uma canção feliz, as notas eram graciosas, as notas eram gentis.

Mas então ele me abandonou, como se me colocando numa geladeira, e meu coração congelou, meus sentimentos ficaram frios, e eu não sabia mais reconhecê-los, não sabia mais descrevê-los.

Agora, apenas como gelo, eu podia me lembrar de quando a felicidade era presente, de quando a tristeza não existia, mas era apenas uma lembrança remota.

E a música que tocava agora, trazia uma melodia lenta, trazia uma melodia triste.

O reflexo do espelho mostrava um rosto pálido, quase sem vida, mostrava o meu rosto, gélido e abatido.

O reflexo do espelho mostrava também um fantasma, a imagem do que um dia eu podia ver ali, mostrava também um sonho, a ilusão do que um dia eu poderia ver ali.

E a música continuava tocando, parecia próxima do fim, e infelizmente, parecia, mas não estava.

E não importava o que eu vivesse, tudo continuaria igual, como também o gelo, que não modifica enquanto mantém-se na mesma temperatura.

“E tudo era muito para um coração de repente enfraquecido que só suportava o menos, só podia querer o pouco aos poucos.”

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