segunda-feira, 9 de julho de 2012

Nós


Este texto foi escrito em Setembro de 2011, para a Revista Janelas (que era organizada em uma comunidade chamada O Sótão). Como ele estava numa pasta separada, esqueci de postar antes de chegar nos desse ano.



No beiral da janela, eu via a linha da estrela cadente cortando o céu, marcando todo seu caminho, como que separando em dois aquele manto escuto com pontinhos de claridade. Separando também a realidade da imaginação.

Em minha mente, sentia os pensamentos se formando e já esperava pelas lágrimas que eu sabia que, inevitavelmente, também iriam surgir.

A luz ia passando pelo céu para em seguida desaparecer por trás das árvores, enquanto as lembranças preenchiam minha mente.

Saudade. Ah, sim, era ela que me dominava e causava todas aquelas lágrimas. Aquela vontade de voltar ao passado, aproveitar as oportunidades perdidas e mudar o rumo que minha vida havia tomado. O desejo de salvar as relações que apenas por minha culpa tinham se perdido, de concertar os meus erros, ou melhor, não cometê-los.

Mas o tempo já havia passado e a máquina de regressar nele – pelo menos por enquanto – não existia. Tudo que eu podia fazer era olhar para aquele caminho e, baseado nele, tentar criar uma rota futura e iluminada, tentar seguir o brilho deixado por aquela estrela – que quem sabe não poderia ser você –, mesmo que no fim ela acabasse na escuridão, afinal, todos nós terminávamos lá, não é mesmo?

Mas, no fundo, tudo que eu poderia fazer era tentar ver o passado com carinho e perceber que nada nunca voltaria. Que eu e você estávamos acabados de verdade e para sempre. Que tudo que eu poderia ter eram lembranças, aquelas memórias que nunca conseguiria – nem queria – esquecer.

Tudo que eu tinha, na realidade, era a Saudade. A saudade do nós que nunca mais existiria – ou que talvez nunca tenha existido de fato.

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